16 outubro 2005

I

Pedaço de tudo

Cercam-me as vidas de todos os que conheci. Pedem-me explicações e satisfações. Atiram-me ossos de corpos ainda mal desfeitos.
Choram à minha frente.

Sento-me no canto mais escuro da sala abandonada.
Encolho-me o mais que posso.
E choro…
Choro…

Choro. E não me digam que não posso chorar! Não me digam o que fazer. Como agir. Farto de observações. Deixem-me comandar o que consigo comandar…

E ali permanece o corpo fraco e ferido. Ferido pelas vozes… comido pelos verdadeiros pensamentos sob falsas realidades.

E choro…
Choro até morrer…
Morro sem me explicar… porque não gosto de falar em qualquer ocasião.

1 Comentários:

Blogger Miriam Luz disse...

Pedaço de nada

(Deixa-me contar-te um segredo... Chega mais perto...)
Não tens vida nenhuma a cercar-te, meu amor.
Porque as vidas... nunca as vemos. Vemos as mortes de quem as preparou minuciosamente. Como se preparasse um espectáculo.
Choram à tua frente. Pois choram. Antes amar e morrer que nunca amar.
E atiram-te ossos. Não percebes? Querem que te (re)construas.
Mas tu não queres. Não precisas. Não ligues.
Senta-te. Vamos ali para aquele canto.
Deixa-me abraça-me... Deita-te aqui no meu colo. Aqui ninguém nos incomoda.
Chora... Estou aqui contigo.
Acaricio-te o rosto. Beijo-te a testa.
Morre, meu amor. Estamos tão cansados...
Morre e deixa-me levar-te nos braços para perto de mim. Já morta, também.
Não fales. Não expliques.
Chora. Beija-me. Morre.

9:04 da tarde  

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