30 outubro 2005

Os últimos
E o teatro começa.
Pessoas moribundas assistem ao espectáculo que encenaram. Onde sou o centro das atenções.

Tento libertar-me. Impossível.
Arrastam-me pelos pés.

Ligam-se as centenas de holofotes.
Não distingo nada nem ninguém. Apenas sinto vergadas nas costas. E pernas de pessoas que tropeçam em mim. E que caem… e que se levantam e me pontapeiam.

Continuo dorido.
Hematomas e sangue pisado.

E oiço gargalhadas. E bebés a chorar por não quererem ver este espectáculo de adultos.

Choro eu também.
Não resisto aos últimos pontapés, bem no meio da minha face, e sucumbo às dores.
Perco os sentidos e morro…
Feliz por morrer.

Luís Teixeira

1 Comentários:

Blogger Miriam Luz disse...

"Os últimos são sempre os primeiros"

Adoro teatro. Adoro encenações. Adoro espectáculos.
Adoro pessoas moribundas. E adoro-te como pessoa moribunda que és. Venero-te. Coloco-te no alto de um pedestal e fico cá em baixo a observar-te.
Holofotes? Não preciso. Nem tu. As estrelas têm luz própria. Um dia ensino-te as constelações todas que conheço. Aquelas onde já fui. As estrelas que nunca toquei deixo que me ensines tu.
Holofotes, claro. Não distingues nada... Estás encandeado... As estrelas (pronto, os holofotes) têm esse poder. Tão lindas, tão lindas, tão lindas... mas encandeiam-nos. Brilham demais. Ou então somos fracos demais. Fechamos os olhos. Tu e eu e eu e tu. Nós os quatro.
Deixa-me abraçar-te. Deixa-me envolver-te em mim. Não sinto dor... Sabes que não. Fria. Calculista. Insensível. Que as vergadas se abatam sobre mim enquanto te acaricio a pele tão suave, tão macia...
Bebés... Adoro bebés. Como teatro, encenações, espectáculos e pessoas moribundas. Adoro tudo e todos. E odeio tudo e todos.
Choram. Os bebés. E tu no meu colo, a cabeça deitada no meu peito, tal filho nos braços da mãe. Um sonho. Ter um bebé nos braços.
Um bebé como tu. Que chore. Que sorria. Que seja fraco e que seja forte. Que ame e que se deixe amar.
Um bebé que sinta dor. Que sucumba. Que se deixe morrer nos meus braços.
Um bebé feliz por morrer.
Como tu...

Meu amor.

11:55 da tarde  

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