08 novembro 2005

A casa dos Espelhos

*O Renascer do Anjo

Por entre um respirar ligeiro e crescente, abro os olhos e revejo o mundo. Ressuscito com os olhos cobertos de água. A raiva que me matou, é a raiva que agora me ergue.
O chão húmido arrefece-me as costas. Sinto-me mal. Com frio. Tremo. Enrosco-me sobre mim e agarro os joelhos. Tento não ouvir os sons que ecoam pela minha alma. Tento esquecer o que se passa.
Mas da testa escorre-me sangue. Do meu corpo nu saem gotas de mim, por entre as ranhuras das cicatrizes.
Choro. Soluço. Tremo de frio e de medo.
Observo o que me rodeia.

*A Tempestade

Ergo-me das cinzas que me rodeiam. Humedecidas pela água que escorre por todas as paredes da casa. Da casa coberta de espelhos.
Espelhos partidos. Estalados. Espelhos que não me reflectem a mim. Que reflectem o que eu represento.
Caminho. Braços esticados. Como fazem as pessoas que não têm forças para caminhar. Lanço-me de encontro às paredes. Ganho forças nos pensamentos que me levaram a morrer e parto todos os vidros que encontro. Fica marcado o sitio por onde caminhei. A sangue bem vermelho.
E os vidros partem-se apenas pela minha passagem. E descalço, caminho sobre o chão perigoso. E caio. E rebolo. Sem pensar no que faço. E a cada movimento, um novo pedaço me corta. E derramo mais sangue do que o que tenho. Derramo sangue por mim e por todos os que sempre acreditaram em mim.


*Motivos

Grito de dor. Sofro mais que todos agora. Rasgo a pele do meu corpo. E observo o motivo por que chora ela.
Chora por mim. Por me ver sofrer.
Mas a cada lágrima dela (de sangue que escorre pelo meu corpo nu), aumenta a minha força. Sou tão mais insensivel quanto mais ela sofre (a minha pele).
E ela vai ao limite. Corto-me todo. Não há mais pele para esquartejar. Foi o limite. E eu cada vez mais triste. Mas sempre com mais força para continuar a cortar-me.
Chegou ao fim.
E agora que é impossivel sofrer mais, fico triste. Por ter feito a pele linda do meu corpo sofrer desta maneira. E agora não há força igual para retroceder.

O Fim

Fim?...

2 Comentários:

Blogger Miriam Luz disse...

O Renascer do Anjo

Gosto de portas fechadas. Posso sempre imaginar o que está do outro lado.
E não as abro... não vá a desilusão ser maior que a ilusão.
Respirar ligeiro e crescente. Será vida?
Ilusão, desilusão... Desta vez tenho a certeza.
Abro. Devagarinho...
Deitado. Encolhido. Em silêncio.
À espera que o mundo se esqueça de ti.
Choras. Soluças. Tremes de frio e de medo.
Bem sei.
Calma... devagarinho... estou quase aí, "meu amor". Meu.

A Tempestade

Espelhos. Tantos.
Não te levantes!... Por favor...
Deixa-me chegar antes de ires embora.
Eterno desencontro.
Cruzamo-nos a meio da sala. Estás ferido. Estou ferida.
Braços esticados. Tu. Eu.
Abraço.
Dança.
Sangue. Um amo-te sob os nossos pés. Um adeus escrito a sangue nas costas de cada um.
Um adeus ao que fica para trás. Aos espelhos. Aos reflexos.
Vidros. Muitos. Todos partidos...
Apertamo-los numa das mãos. A outra segura outra mão. Gosto quando damos as mãos. Assim só sangra uma delas.
E sangra muito. Sangra muito.

Motivos

Não gosto quando gritas. Dói-me. Escondo a cabeça entre os joelhos e balanço-me para a frente e para trás.
Como os suicídas fazem quando têm uma faca na mão e não sabem bem o que fazer com ela.
Choro por ti. Como a tua pele chora. Um dia podia acordar e ser a tua pele. E ser o teu sangue e a tua carne e a tua tudo. E a tua-qualquer-coisa. Pele. A tua pele.
Ao limite. Sempre. E para lá do limite. Porque de vez em quando perdemos a noção do que é razoável e do que não é.

Fim?

Início.
Porque mais linda que a tua pele é o que trazes por baixo.
Porque maior que o sofrimento da tua pele, é o desejo que renasça.
Porque o verdadeiro amor nunca se esgota. Multiplica-se quando se divide.
Anda.
Vamos sorrir para um pedaço de espelho e lembrar que temos um adeus escrito a sangue nas costas.
E um amo-te sob os pés quando dançamos.

E é tão suave a música... tão suave.

9:53 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

És a Fénix que renasce das cinzas, renasces com mais força e com mais beleza, sacode o sangue que tens nas asas, esse sangue não presta, o que agora percorre o teu corpo de anjo é um sangue novo, puro.
Limpa as lágrimas, não chores, eu ajudo-te, queres que as enxugue?eu ajudo-te, já me puxaste muitas vezes para a vida, deixa-me fazer isso agora por ti, não me importo.
Cortemo-nos juntos, como já o fizemos, troquemos o nosso sangue e que ele se funda eternamente.
Não penses no fim, pensa no começo de tudo, como tu disseste tu renasces das cinzas tens força para isso.

um beijo eterno desta para sempre tua likt

12:04 da manhã  

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