08 fevereiro 2006

Estrangulada

Estrangulada

Tristes os que esperaram (em vão) que o tempo fosse maior que a saudade.

Finjo que não vejo os ratos que me vão roendo os dedos dos pés apoiados numa estaca demasiado estreita. Demasiado curta também.
A estaca sobre o teu corpo deitado no chão.
Ambos num esforço sobre-humano. Tu e eu. Eu para me segurar ali e tu a mim e à estaca.
Era só um pouco mais de altura, meu amor. E a minha vida.
Tento sorrir como se não tivesse uma corda ao pescoço.
Tens as mãos ensanguentadas. Vais forçando a corda... bem entrelaçada por entre os dedos em carne viva.
A estaca cravada no peito pelo peso do meu corpo pendendo do tecto.
Sem esquecer o sorriso, imploro lá de cima: "Não saias daí, meu amor... não saias daí", esperando que não me sintas a voz embargada pelas lágrimas que insistem em correr.
No fundo, sei que a corda só parte quando os dedos começarem a cair da tua mão desfeita pela força.
Nem as ratazanas o conseguiriam antes.
Tenho medo. Sempre tive. Mas hoje o medo é maior.
Porque não é a corda que me estrangula.
Tenho medo "apenas" porque há pouco tempo e muita saudade.
E não há quem lhes resista.
Só tu, meu amor.
Só tu, que já sem dedos lutas com a corda com os dentes. O peito mais forte que nunca e os cantos da boca rasgados pela força, mas sempre com um sorriso maior que o rio do meu pranto.

E dizes: "Vai correr tudo bem, amor. Eu já te tiro daí. Sou forte, lembras-te? gnr. ponte"

E sorrio. Ah, como te amo!...

Litostive

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