Oferta
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Sento-me no canto da sala.
Hoje não choro nem sorrio.
Não me mutilo nem afago o meu próprio corpo.
Penso. Encosto-me contra a parede fria e húmida e... penso.
Repenso.
Ah!, como fomos fortes. Como foste! forte.
Um bloco de sonetos numa mão e um amor nunca correspondido na outra.
Nunca tive mais que isto. Nem nunca fui mais que isto.
Quis morrer contigo e nunca tive mais que uma foto para me acompanhar nessa viagem.
Que fiz eu comigo? Que fizeste tu comigo?
Mas... e que fiz eu contigo, meu amor? Amei-te demais. E amar demais é heresia e pecado e profano e o que mais houver de mau.
Mas eu nunca soube... Ainda hoje não sei.
E mutilei-me. E mutilaste-te. E fomos entregando um ao outro pedaços do nosso corpo. Assim... em jeito de oferenda. Presente mal embrulhado.
Um dia demos por nós assim... Sem mais nada para oferecer. Mais nada.
E muito bem embrulhadinho em pétalas de rosa saiu-te do bolso o meu coração. Guardaste-o quanto to dei... Julgava-o eu perdido por entre pernas e braços e pedaços de corpo em decomposição.
E do outro bolso... Tiraste o teu. O teu coração. E colocaste-o no meu peito.
E chorámos e sorrimos juntos. Para sempre.
Afinal naquela manhã morri. Morri e renasci para ser tua.
Também para sempre... *
Litostive
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