Jantar
Jantar
A minha dor é um saleiro sobre a mesa. Mais uma pitadinha e está no ponto.
Um prato, um copo, dois talheres.
Um guardanapo que nunca usas porque o meu sabe sempre melhor.
Deixa-me lá ver as escrituras que os anões te fizeram.
Estendes um braço, enquanto o outro segura o garfo.
A faca sobre a borda do prato. Mais um pouco e era uma faca suicida.
Empurro-a levemente para dentro. Nós, os suicidas, temos um gozo especial em arruinar as tentativas de suicídio uns dos outros.
Ai, distraí-me. Mostra lá, querido. Mostra o que os anões maus te fizeram.
Que bonito bordado, penso. Não digo nada. Limito-me a sorrir.
Os senhores dizem que não se escreve a vermelho.
O sangue também conta? Mal-criados, os anões.
A faca volta a querer resvalar da borda do prato.
Coloco-a no centro da mesa.
Bom, já vi as tuas escrituras. Toma lá o teu braço. Voltas a pegar na faca.
O garfo apertado na mão esquerda.
A faca-suicida agora sorri para mim.
E tu procuras o saleiro que-mais-uma-piadinha-e-está-no-ponto.
Hoje lavo eu a loiça.
Deixaste cair a faca. Foi um acidente, claro.
Bom, parece que desta vez levou a melhor e conseguiu morrer primeiro.
Paciência. Mais uma pitadinha de sal.
Um dia sento-me contigo à mesa e janto.
Litostive
1 Comentários:
Confesso que este blog provoca em mim sensações contraditórias...
Por um lado, sinto vontade de ler.
Mas por outro, acho que o layout é péssimo e não ajuda nada na leitura!
Por isso, mudem o layout para algo mais apelativo, e que "ajude" na leitura dos textos.
Quanto a este texto em concreto, gostei muito!
Escreves muito bem em prosa!
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