Último Charro
Matei quem desconhecia. Passava na rua e olhava-me como quem observa. Quem vê ao longe todos o gestos que se dão quando se anda despreocupado.
Hoje foi o dia em que matei a minha alma. Que era minha mas não vivia em mim.
Cedo, bem cedo, acordei todo nu. Bem no centro da Avenida da Liberdade. Doia-me o corpo. Caminhei em busca de ajuda. Fugiam todos. Escorria de mim sangue bem encarnado. As feridas não fecham. Dói-me a cabeça.
As asas que reconheci nas costas eram maiores que eu. A barba que em mim cresceu tapava-me metade do rosto e o pescoço.
Cedo me apercebi que iam fugir até aparecer alguém para me enclausurar.
Sentei-me. Detrás da orelha tirei um charro. Da outra um isqueiro.
Não vale a pena pensar porque estou assim. Estou.
Aproxima-se a policia. Mas porquê? Se o maior mal foi acordar onde nunca estive?
Cravo as unhas em meu peito. Agarro o coração e faço-o parar de bater. Com uma mão apenas. Dou o último bafo e atiro-lhes a ponta: "Matem isso... que a mim mato-me eu!"
LuÃs Teixeira
Matei quem desconhecia. Passava na rua e olhava-me como quem observa. Quem vê ao longe todos o gestos que se dão quando se anda despreocupado.
Hoje foi o dia em que matei a minha alma. Que era minha mas não vivia em mim.
Cedo, bem cedo, acordei todo nu. Bem no centro da Avenida da Liberdade. Doia-me o corpo. Caminhei em busca de ajuda. Fugiam todos. Escorria de mim sangue bem encarnado. As feridas não fecham. Dói-me a cabeça.
As asas que reconheci nas costas eram maiores que eu. A barba que em mim cresceu tapava-me metade do rosto e o pescoço.
Cedo me apercebi que iam fugir até aparecer alguém para me enclausurar.
Sentei-me. Detrás da orelha tirei um charro. Da outra um isqueiro.
Não vale a pena pensar porque estou assim. Estou.
Aproxima-se a policia. Mas porquê? Se o maior mal foi acordar onde nunca estive?
Cravo as unhas em meu peito. Agarro o coração e faço-o parar de bater. Com uma mão apenas. Dou o último bafo e atiro-lhes a ponta: "Matem isso... que a mim mato-me eu!"
LuÃs Teixeira
3 Comentários:
Este texto, é apenas mais um de grande qualidade.
Parabéns!
Como sempre os teus textos sao lindos.
Não faças esse charro sem mim, queres uma king ou das normais?keres que te faça o filtro?fomemos juntos e deixemos as emoçoes fluirem, vivamos esse momento só nosso.
ja tenho saudades desses tempos de loucura lol.
likt
Último charro
Gostei da metáfora. Da imagem do último charro. Desse último suspiro que tem sido a tua vida.
Sempre mais um... e mais outro... mas sempre o último.
Como os charros.
Estás sempre a morrer, já reparaste? Umas vezes demoras mais... outras menos...
Hoje... hoje sou perfeitamente capaz de traçar a fronteira entre o que escreves porque calha e o que vem daÃ. Desse algures onde vais buscar cada palavra. Sei exactamente até que ponto estás envolvido. Se escreves deliberadamente sobre charros e avenidas gigantes ou se... se nada. Confio na tua sensibilidade LuÃs.
Matas quem desconheces. Matas a alma.
Entretanto também matas alguém quem encontras pelo caminho.
Porque queres ficar sozinho. Não é segredo. E eu já sei. E sei orgulhosamente.
Mas não te deixam. E quando pedes ajuda, fogem todos!...
Asas nas costas? Um anjo. Mas elas são maiores que tu... As duas.
As duas asas. e depois cais...
E mesmo sabendo que vai lá estar alguém para te dar a mão... tens medo de cair. (Porque quando fogem todos sobra sempre alguém)
Não vale a pena pensar porque estou assim. Estou.
Pois. Não vale a pena pensar. Também já não penso. Acho que não penso. Até porque falta pouco para nos levarem daqui. Conseguiram. Conseguiu.
E agora fica tudo assim...
Uma Avenida da Liberdade linda. Cheia de luzes de Natal. Aquelas que mandaste lá pôr para mim, lembras-te? Mas vazia. Porque a polÃcia já aà vem. Entretanto vou-me embora também. Acabou. Levem-nos daqui.
Ah, mas também me mato sozinha. Desta vez não vou falhar.
Sabe tão bem... um último suspiro.
Toma.
O meu coração numa bandeja.
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