19 dezembro 2005

Precipício

Precipício

Mesmo à beira. A um suspiro de cair. E dou um passo maior que as minhas pernas.
Um passo maior que a grandeza e um passo maior que o infinito. Se morri? Não. Nunca morri. Dizem que à terceira é de vez mas eu nem à terceira consegui.
Acho que sou imortal.

Visto um vestido bonito, enfeito o cabelo com um ganchinho e preparo-me para morrer. Sento-me no teu cadeirão. Por vezes consigo lá chegar antes de ti. E trocamos. Sentas-te tu aos meus pés e eu lá no alto observando o que me rodeia. As paredes desfeitas, os tijolos a descoberto, a tua cama de pregos, os ganchos onde penduramos os corpos em decomposição (quando estamos cansados), as cordas que pendem do tecto...
É tão linda a nossa casa.
Mas não acontece nada aqui em cima. Não chego com os pés ao chão. Balanço as pernas para a frente e para trás. Espero. Desespero. A morte não chega e eu não tenho a vida toda.
Paradoxo...
Vem sentar-te aqui no meu colo. Espera a morte comigo meu amor.
Abraças-me. Adormeces no meu peito. Sabe tão bem ter-te aqui...

...

O tempo a passar e a ela não chega...
Amor?, chamo baixinho. Ajuda-me a morrer.

"Amo-te."

Fecho os olhos.
Beijo-te.
Aperto a tua mão.

Estou preparada. Leva-me.

E nunca mais voltei.

Litostive

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