08 dezembro 2005

Manual de Frustação

Precioso.. e bonito. O sabor a sangue que provo de todo o meu corpo. Não sou corruptivel. Sincero sempre!

Prendem-me um gancho à carne mutilada das costas. E de cada vez que tento fugir (cada mais uma vez) sinto a pressão.

Rasgo-me. Com as unhas, retiro nacos de carne do meu corpo. Até não aguentar mais as dores que se tornam insuportáveis. Mas cheguei ao ponto em que a dor não deixa sentir mais dor. E parto os dedos dos pés com os tijolos que ameaçam cair da parede desta casa que não é a minha. E grito gritos mudos. E berro bem alto as dores que imagino sentir.

Inspiro bem fundo o cheiro a queimado que vem de fora. E partem-se as correntes. E caio desamparado no chão...

... rastejo... um pouco mais...

Subo ao cadeirão. À poltrona que me deixa descansar sempre um pouco mais.

(Sala vazia. Paredes de pedra húmidas. Cadeirão ao canto. Ao lado um banco alto. Do outro lado um candeeiro alto que centra a luz na minha face...)

Desfigurado, recosto-me.
Sorrio e acendo um cigarro.
A chama ilumina a minha cara sem a face direita.

Nunca quis sair desta sala. Nunca quis fujir de nada. Fico e enfrento todas as consequências... livre.

E eles abrem a porta. Com bolas de picos. E bastões pesados.
E eles vêm-me e hesitam. Com medo, avançam.

Atingem-me a cara. Fumo um pouco mais.
Partem-me as pernas. Riu-me e penso porque tanta gente quer mal a tanta gente. Eu não tenho a outra face para dar. Mesmo se tivesse hesitava em dá-la a quem não tenho a certeza de a merecer. Comia-a e ficava comigo para sempre.

Morro.
Finalmente.

A alma liberta-se pelo meio do fumo espesso dos 3 charros semi-acesos.

Abro os olhos uma última vez.
Sai-me, sem eu poder controlar, a primeira lágrima de toda a minha... existência.

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