A Europa perde credibilidade na Palestina
por Francis Wurtz*
O soldado Gilad Shalit deve ser libertado! Assim como os 9000 prisioneiros palestinianos em Israel - dos quais 128 mulheres, 300 adolescentes e 900 detidos sem julgamento! Não os esquecemos. A ofensiva do exército israelita em Gaza e o rapto, sem precedente, de um terço de ministros palestinianos, do Presidente do Parlamento e de numerosos deputados do Hamas, acções que não têm nada que ver com a libertação do soldado.
Estes planos estavam prontos muito antes do rapto do soldado, O governo Olmert aproveitou-se desta ocasião para pôr e prática uma estratégia bem planeada e conhecida. Em primeiro lugar, trata-se de derrubar o governo palestiniano, destruir, na confusão, o que resta da Autoridade palestiniana e do seu Presidente Abbas.
Seguidamente, como sempre, declararão que não existe nenhum interlocutor palestiniano para negociar. Estará aberta a via para impor unilateralmente as fronteiras de Israel: reagrupamento dos colonatos, em três grandes blocos mais fáceis e defender; a divisão pequenas partes do território palestiniano e a anexação de quase metade da Cisjordânia, do vele do Jordão e de Jerusalém Leste; a aceleração da construção do Muro. Numa palavra: matar toda a esperança da existência de um Estado palestiniano digno desse nome. Finalmente, o caos assim gerado na sociedade palestiniana permitirá justificar o recurso durável à força em nome do imperativo da segurança.
Esta estratégia não só é monstruosa em relação ao povo palestiniano. Ela arrisca-se a contribuir para uma tragédia futura do povo israelita.
Como é possível imaginar que de uma tal hecatombe possa emergir, como por milagre, dirigentes palestinianos dóceis e uma população consentânea? Quem semeia o desespero colhe a violência. A experiência colectiva da sociedade palestiniana arrisca-se a provar que o facto de ter jogado o jogo da democracia não lhe trouxe senão desgraças suplementares. E a União Europeia o que faz perante tal situação? Vai a UE deixar destruir as instituições palestinianas que contribuiu, durante doze anos, a construir.
Vai abandonar o Presidente palestiniano em pleno tormento, agora que tinha conseguido o que ninguém esperava: a conclusão de um acordo de reconhecimento de facto de Israel e abertura de uma via para a implementação de um governo de unidade nacional? Ou vai a UE ter a vontade e a coragem de imprimir a sua marca, exigindo a libertação dos responsáveis do Hamas, restabelecendo uma ajuda consequente e uma cooperação activa com a Autoridade e governo palestiniano, fazendo valer as obrigações a que estão sujeitos todos os Estados, sem excepção, perante o direito internacional e as Convenções de Genebra?
Penso que é neste terreno e agora que a Europa joga grande parte da sua credibilidade do projecto euro mediterrâneo, e acima de tudo a sua própria credibilidade como actor mundial.
*Francis Wurtz é presidente do grupo parlamentar europeu GUE/NGL