28 março 2006

Glória

Glória

Vede, amor!, meu olhar em vós quedado
Vede em minha boca morto beijo quente
Ouvi minha oração de herege descrente!
Ai ouvi meu peito cantando apaixonado!

Ó amor, foi tardio o abraço desta gente!
Vede pois em meus olhos pranto salgado
Oh!, que me não valeu o sorriso forçado!
Ouvi minha poesia, riqueza de indigente

Ai, pois se Deus me não guarda a Glória,
Haja quem vos ilibe ou crime vos alegue
Ai haja quem alma e corpo vos entregue!

Meu amor!, haja olhar que vos enxergue
E pois que seja o meu triste peito alegre
A alma mais sofrida de que há memória!

Litostive

25 março 2006

LINEA 77

SOULFLY + LINEA 77 SPAIN & PORTUGAL TOUR
200623.03.06 - Razzmatazz
224.03.06 - Slam Jam
25.03.06 - Paradise Garage
26.03.06 - Hard Club
27.03.06 - Arena


Sábado, às 21horas, Linea 77 no garage a abrir Soulfly.
Lá estaremos a curtir naquele espaço caracteristico.
Até domingo...
Luís

21 março 2006

Jantar

Jantar

A minha dor é um saleiro sobre a mesa. Mais uma pitadinha e está no ponto.

Um prato, um copo, dois talheres.
Um guardanapo que nunca usas porque o meu sabe sempre melhor.

Deixa-me lá ver as escrituras que os anões te fizeram.
Estendes um braço, enquanto o outro segura o garfo.
A faca sobre a borda do prato. Mais um pouco e era uma faca suicida.
Empurro-a levemente para dentro. Nós, os suicidas, temos um gozo especial em arruinar as tentativas de suicídio uns dos outros.

Ai, distraí-me. Mostra lá, querido. Mostra o que os anões maus te fizeram.
Que bonito bordado, penso. Não digo nada. Limito-me a sorrir.

Os senhores dizem que não se escreve a vermelho.
O sangue também conta? Mal-criados, os anões.

A faca volta a querer resvalar da borda do prato.
Coloco-a no centro da mesa.

Bom, já vi as tuas escrituras. Toma lá o teu braço. Voltas a pegar na faca.
O garfo apertado na mão esquerda.
A faca-suicida agora sorri para mim.
E tu procuras o saleiro que-mais-uma-piadinha-e-está-no-ponto.

Hoje lavo eu a loiça.
Deixaste cair a faca. Foi um acidente, claro.
Bom, parece que desta vez levou a melhor e conseguiu morrer primeiro.
Paciência. Mais uma pitadinha de sal.
Um dia sento-me contigo à mesa e janto.

Litostive

19 março 2006

Auto-mutilação

O circo inicia-se mais uma vez. Este espectáculo que só eu conheço. Que só se concretiza, todos os dias, por detrás da porta pequena do meu quarto.

Os anões, aos milhares, arrastam-me por entre o público... de anões.
Fazem escrituras a sague frio por toda a pele do meu corpo.

Choro todos os dias quando acordo. Nos lençois encharcados em sangue.
As dores que se movimentam por todo eu.

Apago a luz e aconchego-me novamente nas mantas húmidas e ressequidas de todas as noites que já passaram desde que partiste.

Kimera

15 março 2006

Continua

Retiro as crostas de sangue amassado e espero nada sentir.
Aguardo pelo que sei que vem a seguir.

A dor anestesia-me a face. Retiro também a pele sem me aperceber.
Torno-me o que sempre fui. E vou. Em frente. Para o sitio mais escuro deste espaço. E aguardo mais alguns anos até voltar a ter a face bonita e poder sair à rua... Não ceder à tentação de retirar as crostas antes das feridas sararem mais uma vez...

Kimera

10 março 2006

Labirinto

Labirinto

Suspiro. Suspiro longamente.
Aperto o peito com as duas mãos e imploro. Te.

Cadeira. Mesa de bar. Copo vazio.
O indicador percorrendo círculos imaginários em torno do copo.
As sombras emitindo sons estranhos. Como se as pudesse ouvir melhor que a mim própria...
Fumo de tabaco desenhando formas no vazio.
Tabaco.
Procuro sofregamente uma beata no chão. Não tenho isqueiro. Não quero pedir. Já não sei falar. A cabeça pende sobre a mesa e não tenho forças para a levantar.
Este amor que me arde no peito havia de a acender, penso.
Adormeço sobre a mesa.
Sonho com labirintos. Perdida em corredores de pedra e dúvidas de algodão.
E quando penso ter chegado ao final do labirinto, é a morte quem me sorri de braços abertos.
Olho para trás. Vejo-te ao fundo. Também sorris. Braços cruzados como quem diz: eu disse-te para seguires por aqui.
Corro para ti. Abraças-me. Dás-me a mão. Anda... vamos encontrar a saída juntos.

Acordo.
Não há mesa de café, não há sons, não há tabaco.
Estou deitada no teu peito e é a tua mão que aperto.

Afagas-me o cabelo. Beijas-me a testa.
Já passou...

Litostive

05 março 2006

Prisioneiro de mais uma viagem sem volta...

Injecto mais uma dose no braço esquerdo.
Esperneio ao som das guitarras.
Abro bem os olhos e solto gemidos que fazem tremer o chão pisado por todas as outras pessoas lá de fora.

Desdobro-me em movimento mil, mil posições que me fazem desconfortável.

Amanha vou estar bem. Amarrar-me pelos pés e deixar o sangue chegar-me à cabeça...

Kimera

04 março 2006

Pensando

Deito-me no frio chão do meu quarto. Encosto-me e alimento a solidão.
Quem me ama está comigo.

Kimera