19 junho 2006

Tristeza

Tristeza

Choro as infinitas contas de meu rosário, uma a uma
Que esta minha tristeza hoje é tanta e é nenhuma...
E se disser que é parca esta dor, certo que te minto
Que não há verso, amor!, que te diga o que sinto!

Não há quem me acalent' em noites de breu e bruma
Não há beijos e não há quem em teu abraço durma!
De que vale viver assim, quem veio ontem hoje indo
Enfeitando meu caixão e a morte ali atrás sorrindo?!

Ó céus!, que mágoas estas que de mim tomam conta
Que angústia que me estrangula neste faz-de-conta!
Ora "era uma vez um príncipe", ora já daqui partiste!

Amor!, se teus olhos me vêem assim cansad' e triste
Que ventos se levantam? Diz-me tu quem se importa
Se hoje vivo em tristeza ou s' amanhã estarei morta?

Miriam 18.06.2006

17 junho 2006

O Mundo de João

João decidiu ser hoje. Correr o mundo dentro da sua própria cabeça deixara de ser um fim em si mesmo.
Acompanhado pelos três alegres homens de meio palmo, saiu porta fora e partiu procurando o que sempre sonhou e imaginou ser real num país tão longe que ainda não fosse conhecido.

Correu o mundo em anos.
Fez parte da história. Fez a história.

João morreu passados tempos. Não aguentou a agonia e profunda tristeza em que vivia após aperceber-se que o mundo não era perfeito. Acima de tudo, João não poderia mudar o que pela simples vontade é inalterável.
João não podia fazer isso. Não poderia fazer o que alguns já fizeram e ele próprio condenou.

Preferiu isolar-se. Com os seus três amigos. Mas tudo mudou desde que partira. Não conseguia viver como antes sabendo que tudo lá fora era diferente.

Morreu de velho... também não lutou para que algo mudasse. Não teve forças nem vontade e o mundo não lhe ligou nenhuma.

Gradualmente as almas mudam-se... modificam-se.

Até um dia entao João. Até um dia em que o mundo seja verdadeiramente um mundo.

Kimera

16 junho 2006

Cianeto


Cianeto

Bebe-me no seio!, sou virgem e Maria!
Sou mãe e filha, sou deusa e sou nada!
Ó amor, sacia essa fome na mão vazia
Que a outra vem de fartura disfarçada!

Ah!, já se demora em mim a magoada
Mágoa, de te amar com peito e poesia
Morra eu hoje!, ai, morte envenenada!
Tão tarde chegava, tão cedo me partia

Ai haja lembrança d' um dia ter sofrido
Pois que hoje me avistas de ledo rosto
E me já não esqueces da boca o gosto!

Vil veneno em minhas mãos tão tecido!
Eleita hora esta, de elegia e de soneto!
Pois qu' o momento é de céu e cianeto!

Litostive 12.08.2005

11 junho 2006

TwentyInchBurial e For the Glory no Lótus Bar

TwentyInchBurial e For The Glory no Lótus Bar
Radiovenon Party


TwentyInchBurial ontem no Lótus Bar.
Como diria alguém... "Brutal meu!"

They only show what they want you to see
Falling you asleep
They only show what they want you to see
Taking out your liberty


"(...) contra a opressão que vivemos e contra quem nos tenta foder todos os dias! Porque é sobre isso que o Hardcore é acerca!"

Ricardo, FTG

For The Glory também no Lotus.

Litostive

10 junho 2006

Orgasmo de Alma

Orgasmo de Alma

Ó morte que dorme em meus braços cansados!
Dor e sofrimento, apanágio desta pobre paixão
Nos olhos uma fonte, sede de ti escrita na mão
Os lábios famintos, do teu sangue embriagados

Ai é filho morto no ventre, esta madrasta vida!
Teus gritos surdos pedindo clemência aos céus!
Minhas mãos em teu corpo vingando um adeus!
Lua ausente marcando a eterna hora da partida

Ai tristeza!, meus pés negros sem cor, pintados
De grosseira delicadeza, neste chão enterrados!
A vida jazendo abandonada naquela falsa calma!

Era meu corpo fugindo daquele orgasmo de alma
As mãos leves em cópula sobre teu pesado peito!
Boca de mendigo negando pão, ah puro despeito!

Litostive 19.12.2004


01 junho 2006

No café para partilharmos esse charro...

Ansiando o que no fim é certo, venho chorando lágrimas de sangue. Secou em mim tudo o que poderia sair neste segundo de luto por mim. Falta-me a voz, o som da alma que me percorre o corpo por dentro, sem que se expresse a quem me oiça.

Procuro explicação para que foi feito de mim, deitado no chão frio e húmido da casa mais triste que me acolheu. O sol caí todos os dias para lá do horizonte. Deito-me todos os dias com esperança de não o ver erguer-se de novo. Mostrando-me com arrogância a simplicidade com que o faz.

Hoje deito-me com a certeza de não poder duvidar que o amanha é certo... certo para o sol, para mim termina hoje a inútil presença que se arrasta há tempos...

Ergo na mão um pedaço da janela que parti com a face... na violenta tontura de ontem.

Rasgo o pulso esquerdo... Sinto-me bem. Rasgo o peito num traço continuo.

Desamparado... caio no chão. Para descansar um pouco mais.
Olho o tecto escuro enquanto penso em ti. Que me deixaste aqui... sozinho e indefeso face ao que de mim poderia fazer.

Deixa-me descansar um pouco. Falamos mais logo... no café para partilharmos um charro.

Kimera