28 novembro 2005


Sinto...




Sobe dentro de mim a vontade. E à medida que sobe, arranha as paredes internas do meu corpo já doente. E sangro. Por dentro... E choro o sangue que sangro. Porque tem que sair e não consigo evitar.

E não consigo mexer nenhum musculo. Bloqueado, de olhos vidrados, olho o infinito. Pernas semi-flectidas. Braços caídos. Grito... gritos mudos. Como alguém que sofre sem ninguém notar.

... e o som ambiente vai diminuindo (every time I die)... e ergo o braço esquerdo. Ergo o mais que posso o punho em que me apoio para voltar a viver. E com a mão aberta, agarro o vazio e puxo-me para cima. Reviro os olhos e grito bem alto. Saem dos meus olhos jactos de água salgada. Caminho devagar. Tiro a camisola. Ardem-me as chagas das costas. As crostas do peito saram lentamente.

No limite das minhas forças, tento manter-me de pé... ninguém me derruba. Tenho vontade própria. A vontade que nasce de dentro de mim. A vontade que me vem do coração.

E sorrio... e choro de felicidade.

E penso... e penso...

Como seria se me partissem agora os tornozelos?...

Luis Teixeira

26 novembro 2005

Porque me faltaram as asas...

Queimam-me as asas. Mal consigo abrir os olhos. As dores agudas percorrem todo o meu corpo. O sangue encharca-me a roupa.
Grito... de dor. Pedindo que me cortem os pulsos também.

Mas não fizeram nada. Apenas me cortaram as asas. Permaneci acorrentado, em pé, mais uns dias. Acabei por morrer sozinho. Porque me faltaram as asas... porque me faltou o sangue que continuamente escorria em mim. Fora de mim...

Assinado:
Vontade continua de querer sofrer

24 novembro 2005


Foto: Tiago Lourenço
Quando me perco em mim olho em redor. Busco o que mais me faz falta. A solidão que me consome todas as noites.
Fraco e aprisionado nesta cave que é a minha alma.
Seja então hora de lutar. De sofrer com alegria. Venha a hora de morrer...

20 novembro 2005

Em constante sofrimento...
Sempre buscando o modo mais dificil de viver. Não me acomodando. Buscando sempre que possivel o melhor modo de sofrer. Arranhando-me intensamente. Buscando na dor o melhor meio para poder desabafar.

Hoje estou feliz. Comi um escaravelho. Engoli-o vivo. Sem estar à espera. E soube-me bem.

E quem me deu o escaravelho foi-se a sorrir. Um anjo. Vestido de demónio.
Quem me deu escaravelhos até hoje foram apenas pessoas banais. Mas hoje foi um anjo... Que após tal gesto se tornou uma pessoa banal. Que faz o que qualquer pessoa desta casa me faz. O que qualquer pessoa faz a outra pessoa. Fria e sem sentimento.

E eu comi o escaravelho. E sorri. Primeiro de surpresa. Mais tarde reflecti e sorri... de orgulho no meu orgulho. Claro que comi o escaravelho... mas aprendi que até os anjos nos alimentam de escaravelhos e não de simples amor.

De barriga cheia, deito-me sobre as brasas da minha cama. Grito. Corto-me... Mordo-me a pele...

"o tempo cura tudo..." Daqui a uns tempos as feridas saram e serei feliz. Como mereço. Claro que mereço. Penso que ninguém me merece... mas eu mereço tudo. Mas de tudo, o que mais gosto é de sofrer... por isso serei feliz a minha maneira...

Bem... agora vou ler o Triunfo dos Porcos. Lê-se rápido. 123 pag.
My World Without You

What is left for me without you?... Now that you left I feel there are a lot of things that i should said to you. Now that you left I´m feeling so incomplete in this world , without you... my world without you... what is left for me? without you?...

I would give it all for just one more minute with you. I must know that my life has to go on without you. All I want it´s that you could understand me, but that will be a doubt that I will carry for all my existence. But I know it´s better this way... at least I don´t have to see you suffer. You are in my every dreams but I don´t know if I can do it. I can feel your strenght in my heart.

Together we will meet again. I just hope that some day we can finally meet again.

"my world without you" - Twentyinchburial

Esta letra inspirou-me em muitos dos meus textos. E continua a inspirar. Ambientes destruídos pelo passar dos anos. Casas de decadência. Corpos mutilados de sofrimento. De sofrimento causado pelo amor ou qualquer outro sentimento tão intenso. Saudade, esperança...

Consigo interpretar a letra de duas maneiras:

. Alguém que morre. Que passou a vida numa cama a sofrer e finalmente tem o seu fim. Daí nasce a saudade. O desejo de recuperar o que passou. Por outro lado a razão. Deste modo deixa-se de sofrer. Foi bom mas assim foi melhor. Preferivel morrer do que sofrer mais um tempo. Mas a tristeza fica com quem a ama. Talvez dois velhotes. Talvez um casal novo. Talvez...
Ela vai... Ele vê a cama do hospital encher-se de enfermeiros. Ela morre. Ele Chora.

. Outra maneira... Casal que se ama. Para sempre. Mas não se entendem. Mas amam-se. Ele recusa admitir que quer estar com ela para sempre. Ela sofre muito. Ele, orgulhosamente continua a dizer que não. Ela, sem forças, desiste e parte para outro, de maneira a suportar a dor de um amor interrompido por orgulho dele.
Ele vê-a partir. Não diz nada. Mas por dentro pergunta-se: como vai viver sozinho, sem quem ama e quem o ama, estar por perto...

É uma letra linda. Acompanhada por uma música ainda melhor (a meu gosto).
Tiago Lourenço
(http://www.1000imagens.com/autor.asp?idautor=967)



Morreste-me

No que te tornaste. Puxaste das veias que te percorrem o pescoço e fizeste a tua própria forca. Fizeste um aconchego um pouco apertado demais.

Perguntaste por mim. Não estava. Mutilava os lábios frágeis e indefesos.

Percorri todos os corredores desta casa. Todos os espaços por ocupar. Encolhi-me e fugi de todos. Gritei contra a parede frágil e em decadência. Cabeceei o tijolo duro. Bebi. Bebi muito mesmo. E por fim baixei-me. E pensei. Pensei. Pensei muito também. E chorei as lágrimas que bebi. E que voltaria a beber mais tarde. E que voltaria a chorar. Daqui a uns dias.

Agora não me consigo voltar. Choro sem parar. Estás morta atrás de mim. Enforcada nas tuas veias. A olhar o infinito e a sorrir.

Quando tiver preparado encaro o presente e volto-me para ti. Volto-te as costas e continuo a minha vida.

Que morra de infelicidade se esse for o desejo de todos.

12 novembro 2005

Último Charro


Matei quem desconhecia. Passava na rua e olhava-me como quem observa. Quem vê ao longe todos o gestos que se dão quando se anda despreocupado.
Hoje foi o dia em que matei a minha alma. Que era minha mas não vivia em mim.
Cedo, bem cedo, acordei todo nu. Bem no centro da Avenida da Liberdade. Doia-me o corpo. Caminhei em busca de ajuda. Fugiam todos. Escorria de mim sangue bem encarnado. As feridas não fecham. Dói-me a cabeça.
As asas que reconheci nas costas eram maiores que eu. A barba que em mim cresceu tapava-me metade do rosto e o pescoço.
Cedo me apercebi que iam fugir até aparecer alguém para me enclausurar.
Sentei-me. Detrás da orelha tirei um charro. Da outra um isqueiro.
Não vale a pena pensar porque estou assim. Estou.
Aproxima-se a policia. Mas porquê? Se o maior mal foi acordar onde nunca estive?
Cravo as unhas em meu peito. Agarro o coração e faço-o parar de bater. Com uma mão apenas. Dou o último bafo e atiro-lhes a ponta: "Matem isso... que a mim mato-me eu!"


Luís Teixeira

08 novembro 2005

A casa dos Espelhos

*O Renascer do Anjo

Por entre um respirar ligeiro e crescente, abro os olhos e revejo o mundo. Ressuscito com os olhos cobertos de água. A raiva que me matou, é a raiva que agora me ergue.
O chão húmido arrefece-me as costas. Sinto-me mal. Com frio. Tremo. Enrosco-me sobre mim e agarro os joelhos. Tento não ouvir os sons que ecoam pela minha alma. Tento esquecer o que se passa.
Mas da testa escorre-me sangue. Do meu corpo nu saem gotas de mim, por entre as ranhuras das cicatrizes.
Choro. Soluço. Tremo de frio e de medo.
Observo o que me rodeia.

*A Tempestade

Ergo-me das cinzas que me rodeiam. Humedecidas pela água que escorre por todas as paredes da casa. Da casa coberta de espelhos.
Espelhos partidos. Estalados. Espelhos que não me reflectem a mim. Que reflectem o que eu represento.
Caminho. Braços esticados. Como fazem as pessoas que não têm forças para caminhar. Lanço-me de encontro às paredes. Ganho forças nos pensamentos que me levaram a morrer e parto todos os vidros que encontro. Fica marcado o sitio por onde caminhei. A sangue bem vermelho.
E os vidros partem-se apenas pela minha passagem. E descalço, caminho sobre o chão perigoso. E caio. E rebolo. Sem pensar no que faço. E a cada movimento, um novo pedaço me corta. E derramo mais sangue do que o que tenho. Derramo sangue por mim e por todos os que sempre acreditaram em mim.


*Motivos

Grito de dor. Sofro mais que todos agora. Rasgo a pele do meu corpo. E observo o motivo por que chora ela.
Chora por mim. Por me ver sofrer.
Mas a cada lágrima dela (de sangue que escorre pelo meu corpo nu), aumenta a minha força. Sou tão mais insensivel quanto mais ela sofre (a minha pele).
E ela vai ao limite. Corto-me todo. Não há mais pele para esquartejar. Foi o limite. E eu cada vez mais triste. Mas sempre com mais força para continuar a cortar-me.
Chegou ao fim.
E agora que é impossivel sofrer mais, fico triste. Por ter feito a pele linda do meu corpo sofrer desta maneira. E agora não há força igual para retroceder.

O Fim

Fim?...