29 maio 2006

Numa casa sem chamas

Numa casa sem chamas, onde o sol nos queima a alma. Onde nos tiram tudo e nos lançam sozinhos ao mundo.

Miriam, como aguardo o teu regresso. Aconchegar-me no teu regaço e dormir o resto da vida com a certeza que nada de mal nos acontece.

Foto: Tiago Lourenço
Kimera

22 maio 2006

"O nosso amor é um combate"

"O nosso amor é um combate"

A música toca bem alto nos meus ouvidos.
Os phones mantêm-na perto enquanto eu me mantenho longe.
A cabeça balançando para a frente e para trás ininterruptamente ao som de um combate que nunca chega a ser uma guerra.
Fosses tu menos forte e eu silenciava a música meu amor. E fosses tu mais fraco e tocava-a eu para ti.
Improvisava uma guitarra e encostava-a ao peito como se embala um filho que nunca nasceu.

E a tua voz sussurrando:

"... amo-te... amo-te... amo-te..."

com a mão entrelaçada na minha e os meus cabelos derramados sobre o teu ombro.

Gosto de ti!...
Mais baixinho... Mais um pouco.
Silêncio. Silêncio, que isto agora é para sempre. Soubesses tu como eu sei.

E quem quiser morrer primeiro que se acuse.
Tenho a arma carregada e o peito cheio de amor para dar.

E a música toca agora baixinho na minha cabeça...
A tua música.

Litostive

15 maio 2006

Banhos Nocturnos

Os sonhos lavam-se com água bem quente numa banheira no centro da sala. As promessas por cumprir arrancam-se à força de dentro de nós, sem que para tal tenhamos que nos esforçar muito.

A cada minuto que passa, cada gota de sangue une-se a outra gota de água. E o meu corpo adormecido afunda-se nas águas calmas desta sala a cada nota tocada sem intenção pelo dono da guitarra.

Rasgo a pele que me cobre o corpo pensando que rasgo a vida que não consigo viver. E doí-me a alma ao ver o corpo não conseguir sofrer. Apenas desta vez gostaria de sorrir ao ver-me mutilar, cortando pedaços de mim. Sinal de que ainda estaria entre nós, tomando um duche para mais tarde adormecer... quente e a teu lado.

Kimera

10 maio 2006

Sonhos de camomila

Poderá um dia a tristeza que por mim corre, juntar-se à alegria que faz lá fora. E ambas sonharem sonhos de camomila.

Será no dia em que as veias entupirem do sangue que é sempre o mesmo. Talvez das formas e ambições constantes que um dia se unirão ao brutal travo injectado em forma de desespero.

Com a ajuda da ponta do polegar e indicador, ajusto o chapéu, para que veja melhor as sombras que de mim se fazem sem que em mim nada as faça existir.

Mas o cansaço é sempre superior à continua vontade de me tentar erguer e deixar para trás o colchão que, lá em baixo, me ampara as quedas e recaída constantes.

No peito, escrevo em tons de vermelho mais um pequeno suspiro De mais um dia que passou sem que viesses... para que a tristeza que corre em mim se juntar à alegria que emana de ti... e ambas se juntarem e sonharmos os dois sonhos de camomila.

Adormeço mais algum tempo...

Kimera

01 maio 2006

Eras tu

Eras tu

Eram meninas vestidas de rosa e eram putas de peitos caídos.
E eram caminhos de terra batida e segredos ditos ao ouvido.
Era o autocarro da escola. Miúdos lambuzados da manteiga que lambiam do pão.
Versos escritos nas paredes. Daqueles que ninguém lia porque estavam escritos nas paredes. Melhor fim teriam tido numa página branca. "Virgem página batalhando conquista."
Eram "Ah, meu amor!" em cada gesto quando iam de mão dada a caminho de casa.
Eram pessoas. Infinitas mil. "Senhoras pequeninas". E senhoras das grandes, daquelas maiorzinhas. Eram meninos bonitos como ele. Não, não eram. Como ele não.
Era a Avenida no mesmo lugar de sempre. Como se o tempo não passasse por ela.
E era alguém que já não diz nada.
Eram noites mais longas que os dias.
Eram Invernos cheios de sol.
Eram chamas que lhe queimavam os lábios e eram bocas em sangue.
Eram beijos trocados em surdina.
E eras tu que me doías cá dentro, amor.
Eras tu.

Litostive